domingo, 1 de abril de 2018

Thiago Miranda e o excelente Samba pra Elas (2017)

Thiago Miranda: empoderamento feminino
Sempre digo que há a falta de bons cantores no cenário musical brasileiro e que de uns tempos para cá, muitas cantoras (boas, medianas e ótimas), passaram a reinar em diversos estilos musicais com categoria ímpar de inspirações diversas. Não que não tenhamos cantores no Brasil, mas o nicho de qualidade musical está tão aquém, que raramente surge um bom ou ótimo cantor para nos brindar com a felicidade extra de ouvirmos uma boa música. Eis que de todo o vendaval que estamos passando atualmente, surge um dos melhores e mais capacitados cantores e compositores dos últimos anos e que tem na bagagem nada mais do que excelentes canções, excelente timbre vocal e perfeitas melodias. Thiago Miranda é uma das grandes novidades do mundo do samba e não há que ter uma comparação aqui: ele é único, autoral, completo e atemporal. Essa atemporalidade dentro de seu universo faz com que ele seja ainda mais moderno em seu habitat, pois o que ouvimos em seu recente lançamento é um apanhado de sambas com toques e batidas que nos remetem a um mundo em que o desejo era outro, os sonhos eram outros e a sensação de paz eram outros. Thiago Miranda nos transporta a um mundo decente, digno, capaz de nos divertir e de nos fazer refletir com tudo aquilo que nos cerceia, nos rodeia e nos catalisa. E é justamente aqui onde mora o diferencial de Thiago: sua simplicidade nas letras nos transportam a um devaneio de sensações híbridas e carregadas de sentimentos aflorados e sambas perfeitos. Samba pra Elas (2017 / Funalfa / 24,99) é um disco dedicado às mulheres e aos morros, às comunidades, às sambistas, às melodias carregadas de poder ponderado e centrado no semblante do outro que carrega nas costas o trabalho digno, a única roupa que usa, o pouco dinheiro na carteira, mas que são, acima de tudo, felizes. Samba pra Elas é o retrato fiel de que o respeito mútuo se faz presente em canções como Maria do Socorro (Edu Krieger), cantada magistralmente por Maria Rita (2007) e que aqui o cantor entoa uma nova alegoria de humanização. No disco podemos encontrar também as diversas outras marias espalhadas pelo Brasil afora juntamente com as giocondas, marias do mar, giseles, julianas, carolas, jandiras. E esse é o verdadeiro significado do disco: homenagear a singeleza da mulher brasileira em toda a sua esfera, em toda a sua dimensão e propriedade; seja ela de qualquer canto deste país ou dos quatro cantos do mundo. Uma sacada e tanto do cantor, que trouxe para esse universo do samba a redundância da mulher brasileira e de sua importância dentre tantas lutas e guerras geradas por anos a fio até a sua boniteza de sempre. Além do destaque autoral de Thiago para com as mulheres, o cantor presta uma homenagem a Gilberto Gil, remodelando a canção Super-homem, a canção (1979), que fala da fragilidade masculina perante a epopeia feminina dentro de um empoderamento de redoma ulterior e benigna. Encerrando o disco, Todas elas juntas num só ser (Lenine / Carlos Rennó) nos remete às nuances femininas em sua totalidade: a melodia traz aquela sensação de que há que ter um respeito gigantesco pela figura da mulher e ser humano que transmuta entre a menina e a mulher em sua maior predominância. Sendo muito bem representadas, o samba e a mulher são cantadas por um homem, capacitado para tal, para honrar a beleza de duas almas líricas importantíssimas para os dias atuais: a mulher e o samba. Thiago Miranda merece ser ouvido pelo conjunto da obra, pela simplicidade ao descrever situações cotidianas e pelo seu cantar trivial. Um cantor a altura de sua mais alta patente musical, de sua categoria perfeita e magistral e de sua competência artística. Com tantos arroubos musicais da atualidade, em que o que é desprezível acaba sendo degustado ou jorrado em nossa goela abaixo, ouvir e desfrutar as músicas de Thiago Miranda acaba sendo um alívio para nossos sensatos e imponentes ouvidos. 



Samba pra Elas (2017) / Thiago Miranda
Nota 10
Por Marcelo Teixeira