domingo, 7 de janeiro de 2018

Discos para esquecer: Ana Vilela e seu Trem-Bala (2017)

Vilela e um disco morto
Considerada por dez entre dez pessoas como sendo a cantora do ano de 2017 e por três entre dez pelos críticos de música como uma cantora nonsense no cenário popular brasileiro, a cantora e compositora Ana Vilela surgiu do mundo da mídia esporádica (aquela que te levanta a moral, mas logo te trás para o planeta Terra) e foi alçada ao mundo do showbizz da mesma forma como uma Elis Regina ou Gal Costa surgiram na década de 1960 com seus estilos competentes e dotes artísticos. Mas há uma diferença gritante e relevante nessa minha comparação pífia: Elis e Gal batalharam para serem reconhecidas como cantoras profissionais e utilizaram a voz para mostrar algum talento (coisa que até hoje, no século 21, ambas conseguem ter), enquanto que Ana precisou das mídias para se autopromover. Há algo de errado nisso? Obviamente que não, mas se levarmos em conta que Elis e Gal não eram compositoras e que ralaram muito para provar algum talento, disso ninguém pode duvidar. O mundo de hoje é formado por bestas digitais (Umberto Eco poderia nos explicar isso melhor) e com tantas coisas correndo contra o relógio, eis que as gravadoras não estão mais se importando com aquilo que é vindo da internet. Algumas poucas cantoras surgiram dali e dali estão voltando para o esquecimento, enquanto outras, verdadeiramente genuínos no seu perfil de cantoras e cantores, batalharam por uma gravadora que lhes dessem suporte artísticos para poder mostrar um pouco de suas músicas e qualidades. Ainda que algumas cantoras surgissem de gravadoras, como os casos de Ana Carolina, Maria Gadú ou Maria Rita, as mesmas se encontram sumidas da grande mídia, sem discos lançados ou, quando lançados, quase ninguém presta atenção. Ana Vilela está nesse nicho chamado famosidades instantâneas, que logo voltará de onde saiu: a internet. Se sua música Trem-Bala foi uma apoteose no ano passado, com participação até de Luan Santana, seu disco passou desapercebido pelo grande público, mesmo com a famosa música O Leãozinho, composta por Caetano Veloso para o disco Bicho (1977). Muitos sequer sabiam que ela tinha lançado um álbum com treze faixas. Outros nem sabiam que Ana Vilela era a detentora da canção Trem-Bala. O disco nasceu morto, ficou morto e morreu sem enterrar, porque assim é a mídia do caos, como diz na canção do cantor mineiro Luiz Marques (2009) e que acaba sendo um manifesto contra a mídia especializada em notícias ruins e nas pessoas que insistem em ficar atentas, antenadas, sublinhadas neste caos chamado internet, mídia digital e afins. A música de Luiz Marques se iguala com a música Senhas, de Adriana Calcanhotto (1992) em que diz eu não gosto do bom gosto. Ana fez muitas pessoas chorarem pelos cantos do país, mas e o resto do disco, por que ninguém comenta suas outras canções? Por que a mesma mídia que a elencou não mostra as outras faixas? A resposta é simples: não há o que escutar. Trem-Bala (2017 / 22,99) já é o suficiente para que Ana Vilela nos sufoque com suas músicas de uma única estação. Mas há uma boa notícia nisso tudo: Ana Vilela fala de amor e de igualdade em suas músicas e mesmo que Trem-Bala seja uma falácia contra o moralismo radicalizado nas pessoas, a canção passa um ar de mentira, de ilusão, de sonhos inexistentes ao mundo atual e, com isso, retornemos à Mídia do Caos de Luiz Marques e as Senhas, de Adriana Calcanhotto, que são mais verdadeiras que a música blasé de Ana Vilela.


Discos para esquecer: Ana Vilela e seu Trem-Bala
Por Marcelo Teixeira

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