domingo, 19 de novembro de 2017

Lulu Santos tenta homenagear Rita Lee sem homenagens


Lulu: disco sem homenagem
Ainda tento entender o que acontece com a carreira de Lulu Santos: além de ser fantoche em um programa musical da maior emissora do país, o pop star vêm na onda das regravações que, como ele mesmo sugere, são homenagens aos artistas ainda vivo. Há quem goste e há os que discordam desse estilo de se fazer música e eu fico com a segunda opção quando tudo não passa de produto mercadológico e fonográfico para camuflar as ideias inexistentes. Aconteceu com Roberto Carlos em uma homenagem pífia, sem deslumbramentos e sem achados convenientes e agora volta a acontecer com a eterna rainha do rock nacional, Rita Lee, que reuniu a família para ouvir o tão esperado disco em sua finita homenagem. Não, definitivamente, não valeram os choros compulsivos de Rita para Lulu, pois o disco não passou de um disquinho que logo mais será esquecido em uma gaveta dos fundos, um baú qualquer despedaçado ou em mentes pouco equilibradas. Seria o fim de carreira de Lulu Santos ou apenas uma passagem fantasmagórica de insana desmemoria? Não vou aqui dizer que Lulu não fora importante para a música popular brasileira porque eu estaria veementemente mentindo, afinal, o cantor é considerado um ícone dos anos 1980 e brilhou diversas vezes nos anos 1990 e 2000, mas sua demanda popular não anda tão boa assim, dito pelas passagens televisivas atuais e por sua retórica blindagem se achando o tal. Com tantos erros atribuídos à sua imagem musical, Lulu não soube aproveitar o momento sublime de mais uma homenagem a uma grande artista da nossa música. Perdeu-se a chance de mostrar o quão valioso e potente é sua voz, o quanto é importante o momento da homenagem e como é suntuosa a parceria de harmonização entre a homenagem a homenageada. Lulu, o eterno jovenzinho do rock, com seus cabelos ora vermelhos ora brancos e com chapéus e terninhos modernos, não convenceu em nada nessa chinfrim homenagem retorcida em disco. Não há garantias de que o disco venha a ser o melhor de suas homenagens, pois nem para Roberto Carlos ele o fez. Homenagem à altura de Rita foi a que a cantora Ná Ozzetti fizera em 1995, com o LoveLeeRitta, com harmonias diferentes, delicadeza na voz, repertório bem caprichado e a beleza que Rita deixou em suas melodias. Lulu parece que esqueceu de alguns detalhes pormenores, correu para gravar, não estudou as letras e jorrou um disquinho com uma capa retro e com pedaços de décadas retorcidas.


Lulu Santos canta Rita Lee (2017)
Nota 4
Por Marcelo Teixeira 

domingo, 12 de novembro de 2017

MC Livinho e a voz que ninguém deveria ouvir

Livinho e  voz que ninguém merece
Longe de ser um grande astro da música popular brasileira e de ser estrela da consolidação do pagode, MC Livinho tenta ser um cantor com popularidade exemplar em território nacional. Sem poder de vocalização e sussurrando suas melodiosas canções, o cantor agora tenta unir sua imagem ao pagode e indo de encontro com o rei dos magos pagodeiros, Péricles. Óbvio que essa união não sairia bem, ainda mais tendo uma desunião de vozes como as de Livinho, que é paupérrima e cansativa e arrastada. Péricles tem uma das melhores vozes do pagode e se consagrou no estilo há anos com sua marcante e impressionante presença de palco, mas o colocar em evidência com um cantor que não se iguala ao seu tipo vocal, chega a ser uma aberração aos nossos ouvidos. Mesmo a música Bandida tendo estrondosos 4 milhões de acesso, a música não vale ser ouvida e não garante sucesso para nenhum dos dois. O motivo é simples: a música é chata e, como já disse acima, MC Livinho não canta absolutamente nada, tendo uma voz arrastada e chata. Vale ressaltar que MC Livinho carrega umas broncas do público por outros motivos: uma por ser considerado homofóbico (o que ele desmente e outros dizem que foram os administradores de redes sociais que inventaram a desculpa) e outro puxão de orelha após o cantor lançar a estranha música, em agosto recente, Covardia. Lembrando que a música é acusada de ser apologia ao estupro, coisa que o cantor nega veementemente. Com teor de baixo calão, humilhando e rebaixando a mulher à pior espécie, Livinho tentou se retratar perante o caso, mas de nada adiantou. O cantor apenas carrega mais uma polêmica nas costas e, música de qualidade que é bom, nada. Por hora, MC Livinho é o lixinho musical que todos aplaudem, mas ninguém entende!


MC Livinho e a voz que ninguém deveria ouvir
Por Marcelo Teixeira

sábado, 11 de novembro de 2017

O delicado álbum de Wanda Sá

Wanda: expoente da Bossa Nova
Uma das mais expoentes expressões da Bossa Nova, a cantora Wanda Sá é referência de musicalidade reconhecida mais no exterior do que no próprio país de origem e, para ela, o grande êxito do gênero foi o fenômeno que o estilo bossa novista trouxe de renovação na década de 1960 e que teve, de fato, um valor sistemático e assentido mais outros países do que no Brasil. Apaixonada pela música e pelos amigos que fez ao longo de sua carreira, a cantora norteou um novo trabalho, que passou praticamente despercebido do grande público e por parte dos jornalistas e críticos de música. Cá entre nós (R$27,99 / 2016) é um disco que nos remete ao ano de 1972, pois ele reverencia todo os momentos pelas quais a cantora vivenciou e dos amigos que angariou, como Roberto Menescal, Marcos Valle, Tom Jobim. Por falar em Tom, Wanda pincelou uma preciosidade do cancioneiro do maestro com o poeta Vinicius de Moraes e achou a deliciosa Cala, meu amor, música desconhecida de ambos os músicos. A ideia era reunir canções inéditas de parceiros como o amigo Roberto Menescal, João Donato, Carlinhos Lyra e Nelson Motta, mas além de conseguir juntar essa galera, Wanda trouxe para o celeiro convidados que até então não faziam parte de seu rol musical, como o cantor e compositor Ivan Lins, Chico Batera, Nelson Faria e Ricardo Silveira. Trata-se de um disco refinado, culto, bossa novista e cheio de saudade de um tempo que ficou apenas na lembrança.


Cá entre nós (2016) / Wanda Sá
Nota 10
Por Marcelo Teixeira

sexta-feira, 10 de novembro de 2017

Verdade Tropical - 20 anos depois

Leitura obrigatória
Leitura mais que obrigatória para todos os amantes e não amantes da boa música brasileira, o livro Verdade Tropical acaba de ser relançada por Caetano Veloso com uma capa nova (não menos bonita que a edição de bolso, mas com certeza mais bonita que a primeira versão) e com um capítulo bônus intitulado Carmen Miranda não sabia sambar. Trata-se de uma conversa sobre esses 20 anos que nos separam da primeira edição, construída a partir do próprio livro e das suas repercussões. Eis aqui um novo retrato de Caetano acerca do mundo da música e para dizer também que o mundo mudou. As questões cruciais de sua vida e de suas angústias diante das dores do mundo também se fazem presente. Caetano é um grande leitor de livros e grande homem de erudição. O novo texto pode até surpreender os que só o têm como um artista da canção popular, jamais os que acompanham de perto a sua trajetória. A singularidade que enxerga no Brasil e em seu destino como nação permanece de pé, a despeito de tudo o que estamos testemunhando nos últimos tempos. Embora eu particularmente ache o livro Verdade Tropical extenso, cansativo por vezes e arrastado em uma profusão de palavras difíceis, deixo aqui registrado que o livro é, na verdade, uma síntese da biografia do próprio Caetano perante sua carreira tropical, musical e intelectual. Porém, foi aqui neste livro que pude ter a honra de conhecer um dos intelectuais que mais influenciaram minha carreira pedagógica e intelectual, como o escritor Edgar Morin ou o artista multifacetado e original Hélio Oiticica. Assim como há passagens engraçadas, como o caso da cantora Gal Costa cantar por intermédio de uma panela ou a rixa entre o próprio Caetano e Roberto Carlos, a quem Maria Bethânia já era fã. Mas não comprem o livro apenas porque há um capítulo maravilhosamente extraordinário como bônus ou pela nova capa tropical do cantor. O livro é para ser lido por inteiro. Parafraseando Adriana Calcanhotto, é preciso devorá-lo (como canta na música Vamos Comer Caetano). Muito bem escrito, há aqui uma formação humanística impressionante, capaz de nos impressionar do primeiro ao último capítulo. O relançamento de Verdade Tropical coincide com os 50 anos do Tropicalismo, cujo é um dos temas centrais do livro.


Verdade Tropical – 20 anos depois
Nota 10
Por Marcelo Teixeira