terça-feira, 8 de agosto de 2017

Leny Andrade - uma cantora brasileira


Leny : grande dama da MPB e sem rótulos
Embora muitos ou poucos a considerem como uma cantora de jazz, a própria Leny Andrade não se considera rotulada como tal. Leny gosta de ser chamada de cantora. Simplesmente cantora. Em alto e bom som e na sua mais plenitude definição. E por que e para quê limitá-la a um gênero quando se sabe que ela domina tantos outros? Se precisar for classificá-la de alguma maneira, a única palavra possível seria: brasileira. Então assim a chamemos: Leny Andrade, uma cantora brasileira. Assim como é uma cantora brasileira que fez mais sucesso (com merecimento) do que em solo americano, a própria Leny diz que é uma aspirante cantora americana. Nada nada e nada longe da verdade. Leny canta desde 1983, quase todo o ano, em Nova York. E tanto que, em 1993, dez anos depois, já com o Green card na bolsa, resolveu montar por lá um agradável espaço em formato de moradia onde pudesse pousar o corpo durante suas longas e lotadas temporadas no Ballroom, no Blue Note, no Town Hall e nas demais casas que disputavam o seu canto. Era também uma base confortável para onde retornar depois de se apresentar em Washington, em Los Angeles ou em cidades americanas. E até hoje é assim, com a diferença de que seu principal placo em Nova York passou a ser a casa de jazz mais respeitada do mundo: o Birdland, assim chamada para homeagear o saxofonista Charlie Bird Prker. Nenhuma cantora pode ser comparada à Leny, exceto Ella Fitzgerald. Excelente cantora que é, Leny é uma cantora que improvisa em vocais, lógica e assimétricas em explosivo dinamismo. Nascida no Rio de Janeiro em 1943, a cantora foi criada em conjuntos habitacionais e desde pequena sonhava em ser cantora. Ingressou na Bossa Nova tendo dois pontos centrais e cruciais: de um lado João Gilberto, que mantinha uma postura cool, equilibrada, simplista, justa e exata e de outro lado tinha a linha feminina que contrariava com a de Nara Leão, Dulce Nunes, Astrud Gilbert, Odette Lara, Wanda Sá, Joyce, Miúcha, Elza Soares, Elis Regina. Mas ao mesmo tempo que Leny tinha o exemplo e companheirismo de João Gilberto, ela se dividia entre outras inspirações e vertentes masculinas, como Wilson Simonal, Jorge Ben e Emílio Santiago. Mas ao adentrar na Bossa Nova, Leny provou que era Sambop, estilo totalmente diferente do estilo banquinho e violão. Um dos maiores desmentidos à história de que a bossa nova era cantar baixinho foi a entrada de Leny no movimento: cantar baixinho não era com ela. E mesmo assim, Leny foi a mais consagrada dentro desse time de cantoras extraordinárias. Miéle e Ronaldo Bôscoli foram os responsáveis pelo impacto da presença de Leny em solo brasileiro, quando produziram o histórico show Gemini V, que também contava com Pery Ribeiro e o Bossa Três. Depois disso, Leny percebeu que aqui não seria seu verdadeiro palco, embora saiba da sua responsabilidade em ser brasileira: o Brasil não a respeitaria como cantora, mulher e dona de uma das vozes mais autorais de seu tempo. Fez e faz sucesso nos Estados Unidos pelo conjunto da obra e lá o povo americano a reverencia como sendo a maior cantora de jazz do mundo.

Leny Andrade – uma cantora brasileira
Por Marcelo Teixeira

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