quinta-feira, 1 de junho de 2017

Sambas do absurdo comprova o que são absurdos


Sambas do absurdo: capa absurda
Se fosse apenas pela compreensão do que é samba, já seria um belo argumento para comprarmos o disco. Mas levando em conta que temos a junção de Juçara Marçal, Rodrigo Campos e Gui Amabis, temos que rever nossos conceitos e saborear até onde puder para termos a certeza de que aqui há uma qualidade impressionante em boa parte do álbum. Não chega a ser um disco perfeito, mas a sonoridade que envolve o samba e a voz agradabilíssima de Juçara nos corrompe a uma satisfação plena de originalidade e astúcia. Mesmo havendo uma breve assimetria de durabilidade absurda de atos, fica impossível não absorvermos as canções como um todo, com a sua força extraordinária e sagaz, demonstrando toda a sua grandiosidade em torno de três grandes artistas da música nacional. Sambas do Absurdo (2017 / YB / 28,99) é um disco que reúne a saga competente de três artistas conceituados, cada qual com seu público fiel e que se reuniram para fazerem o impossível por uma causa justa: mostras as vicissitudes da samba. Havendo uma sincronia entre o sincretismo do samba com a poesia em sua essência total, o resultado desse álbum nos repele ao universo infiltrado de tempos soberbos em que o estilo se polemizou em áreas que não eram apenas o morro. Há simbioses existenciais dentro da cadência sincopada provocativa e erótica nas apimentadas canções, alimentados por uma perfilação de músicas com diversos temas transversais e com assuntos que se entrelaçam aqui e ali, como sexo, conflitos, urbanização, identidades de gêneros. São reflexões que nos remetem ao bom e velho cancioneiro de outrora, em que o ouvinte parava para refletir e discutir sobre a música de botequim, sobre o cantor, sobre a mulher, sobre a vida. São levezas de outrora que jamais voltarão ao mercado fonográfico. Com apenas oito faixas, Samba do Absurdo traz uma analogia diferenciada na titulação de suas músicas: todas elas são marcadas pelo mesmo nome, mas com numeração diferente. Assim, podemos dar nome pessoal às músicas como exemplificação e isso não acomete no desenrolar do disco, que são todas com o nome absurdo e com numeração de trás para frente. Uma bela e genial sacada do trio, que fez de um disco simples a um disco de primeira grandeza dentro do pantaleão destinado a evolução. Juçara Marçal é tão boa como intérprete que chega a nos dar um nó na garganta quando canta, mesmo com uma suavidade angelical que a rodeia. Encantadora do começo ao fim, sua voz é uma suavidade existencial aos nossos ouvidos, mesmo com faixas sombrias e temerosas, sufocantes e temidas, chocantes e norteadoras. Chega a ser um absurdo sua voz. Mas absurdo mesmo é não ouvir o disco.

Samba do Absurdo (2017) / Juçara Marçal, Rodrigo Campos e Gui Amabis
Nota 8
Por Marcelo Teixeira

 

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