domingo, 11 de junho de 2017

O desabafo de Elba Ramalho


Elba: coerente e precisa
Elba Ramalho é uma das melhores e maiores cantoras do país e que fez uma rica trajetória na música popular brasileira focada e centrada no regionalismo musical de sua terra natal, Paraíba, para conseguir consolidar o forró e o frevo de Pernambuco, de seu amigo Alceu Valença, dentro de um patamar de altíssima grandeza. Não foi uma coisa de um ano e meio ou dois anos para que isso acontecesse, mas sim, mais de duas décadas para que Elba e companhia limitada conseguissem fazer com que a música de raiz nordestina estivesse dentro das insígnias musicais brasileiras e fosse referência lá fora. Conseguiu, com tamanha veemência e coragem, colocar o forró e o frevo dentro das alegorias festivas nacionais e o estilo forró e frevo hoje são patrimônios imateriais, coisa que muita gente praticamente desconhece. Porém, o desabafo desta grande cantora pegou a todos de surpresa e com tamanha voracidade. Por que, em épocas de festas juninas, o forró fora posto de lado para servir ao público do sertanejo universitário? Não faz sentido termos que comparecer às festas juninas espalhadas pelo estado de São Paulo e termos que ouvir, com certa exatidão de cansaço auditivo, músicas de cunho duvidoso para a festividade, com grande apelo ao erotismo e forte presença de dançarinas seminuas dançando em horários inapropriados. A festa de Junho não pede isso, mas somos obrigados a assistir tais aberrações. Precisamos estudar o conceito de festas juninas locais fora do eixo Rio/São Paulo para que possamos entender a significância que esse momento pede. Mas o desabafo de Elba é justamente o contraponto desta minha colocação citada na frase acima: em sua cidade natal, Paraíba, o forró deixou de ser uma coisa levada a sério e passou a ser um mero ritmo qualquer, dando espaço e vazão para o sertanejo. Óbvio que existe espaço musical para todos os ritmos, mas é preciso um certo respeito pela cultura do outro, pelo espaço do outro, pela presença do outro. Nem todos que estão no forró verdadeiramente dito gostam de sertanejo universitário e na certa muitos que ali estão, querem ver as típicas danças tradicionais. Por que, então, precisamos assistir a aberrações sertanejas em um momento dos forrozeiros? Elba entrou no coro dos injustiçados e precisou vociferar para que tivesse sido ouvida. Elba criticou duramente a programação de São João anunciada pelos locais que tradicionalmente celebram as festas juninas como Campina Grande (Paraíba) e Caruaru (Pernambuco) e ficou irritadíssima com o que ouviu: ao falar sobre o assunto com diversos jornalistas, a cantora disse que não canta em Barretos por ser um evento deles e que não gostaria de ir a uma festa de São João que não tivesse forró.  Assim como o frevo de Pernambuco é um movimento do Carnaval nordestino, o forró é uma festa promovida pelo povo paraibano e nordestino como um todo, marcando território em suas festas regadas de tradicionalismo, festanças e alegrias. É preciso haver mais respeito. É preciso ouvir o desabafo de Elba: Falei com a Paraíba, reivindiquei porque o São João de lá está muito mais comprometido que o São João daqui. Eu não tenho nada contra nenhum artista, nada contra nenhum sertanejo. Tem espaço para tudo, no céu cabem para todos os artistas, ninguém atropela ninguém. Porém eu não toco na Festa de Barretos, Dominguinhos também não cantava. A festa é deles, é dos sertanejos, e eles têm bem esta coisa: essa área é nossa. Ícone do forro nordestino, Elba tem livre caminho e arbítrio para falar o que pensa sobre qualquer assunto e dentro de seu universo particular e muito conhecido, o forró, ela tem acesso direto para dizer o que pensa. Aí quando chega aqui no São João em Campina Grande, não ter o Biliu de Campina, não ter Alcymar Monteiro, eu reclamei bastante, cara, não ter os trios. Quando chega o São João, se você não tem forró... Eu não quero ir a uma festa que não tenha forró. Façamos das palavras de Elba uma profecia perante os arroubos da mídia e dos farsantes musicais. O forró precisa ser respeitado!

 

O desabafo de Elba Ramalho
Por Marcelo Teixeira

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