sábado, 13 de maio de 2017

Silva congela obra de Marisa Monte


Silva: disco morno
Indiscutivelmente, Silva é um cantor nostálgico e que precisava mudar de ares para se consagrar como um cantor que merece respeito. Ainda que tentasse resgatar as melhores fases de uma das cantoras mais perfeccionistas da MPB, Silva não conseguiu se desvencilhar de seu tom característico para cair de vez nas malhas suaves da população. Ganhou, talvez, uma mistura de carinhos com um misto de porradas singelas. Sua voz é agradável, mas é só. Não podemos associar Silva com uma grande voz de talento superior, porque ainda falta muito para que isso possa acontecer. Por enquanto, Silva é Silva mesmo reinventando canções de Marisa Monte. Com uma capa retrô, simples e comportada, Silva nos deixa a par da curiosidade em conhecer as músicas de Marisa cantadas por um homem. O resultado por vezes soa natural, por vezes superficial e algumas vezes neo-sofisticado. Mas depende muito do gosto peculiar de cada pessoa ao ouvir o disco, pois cada som é indiferente para cada ouvido e talvez esse seja o meu maior recado neste artigo e que transcrevo aqui pela primeira vez em seis anos de crítico musical: ouvir Silva não é tão fácil assim e quem conhece a obra do cantor na certa escolherá seus discos anteriores a este em que canta Marisa. Lançado em novembro passado, Silva canta Marisa (2016 / SLAP / 27,99) é um disco comum em que o artista dá voz à uma releitura compactuada de uma grande artista nacional. Não há defeitos nesse disco, mas não há beleza característico para ser um grande disco, pois ele é nonsense, homogêneo, respirador, tranquilizador e temporal. Leves batidas e muito pouco sintentizadas ficam como sendo marca registrada sob formas aleatórias em renomadas canções como Ainda Lembro, Infinito Particular, Eu Sei e a cansativa Não é Fácil. O jeito com a qual Silva canta aqui é arrastado, cansativo por vezes, insatisfatório e triste, mas supera as adversidades quando canta em tom introspectivo músicas como O Bonde do Dom ou De Noite na Cama. Vale ressaltar que Marisa Monte é a grande homenageada este ano pelo Mais Cultura Brasileira por seus 50 anos de idade e Silva presta uma homenagem à deusa da música com um disco que poderia ser melhor trabalhado, melhor desenvolvido e melhor estruturado. Eis aqui um crivo mercantilizado que afasta o ouvinte de segunda viagem (aquele que já conhece a obra encantadora do cantor) do ouvinte de primeira viagem (que pode se encantar perdidamente pelo seu jeito de cantar). Silva pode ser adorado ou odiado com este disco, assim como pode ser eternizado definitivamente como o cantor que deu voz às canções sensoriais de Marisa Monte.

Silva canta Marisa (2016) / Silva
Nota 7
Por Marcelo Teixeira

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