sexta-feira, 26 de maio de 2017

Cadê o pop de Julia Bosco?


Cadê o pop?
Desperdício! É assim que começo este artigo que não é nada desrespeitoso com o trabalho da digníssima Julia Bosco, uma cantora que flerta entre todos os ritmos de música, mas que se perdeu totalmente em um disco pop e eletrônico. Quando digo desperdício, refiro-me ao desperdício de tempo, de ouvir uma boa música ou uma boa voz. Não que Julia Bosco não tenha uma boa voz, pelo contrário, ela o tem, mas não fez jus ao novo disco, lançado no ano passado com pompas de um disco que revolucionaria o mercado pop. Entrou em um nicho que não é sua seara porque nessa seara ela não domina. Não estou aqui dizendo que Julia Bosco não é uma cantora de prestígio ou categoria, e sim, que ela não teve maturidade o suficiente para pôr no mercado um disco tradicionalmente pop com requintes de eletrônico. A começar pela horrenda capa, o disco deixa a desejar no quesito originalidade, pois o que vemos é um conjunto de cores primárias misturadas com um rosto apático e sem graça. Dance com seu Inimigo (2016 / Coqueiro Verde / 21,90) contêm dez faixas com menos de quarenta minutos e a expectativa é fraca, não sintetizador e cabível de uma consternação única. Fica nítido que Julia tentou encostar-se à obra de Tulipa Ruiz, cantora que consegue flertar livremente com o pop eletrônico com categoria exemplar. A personalidade de Julia não compete com Dance com Seu Inimigo, seu segundo disco, que é o oposto de Tempo (2012): sua personalidade pode ser comparada com a de uma cantora sombria, sem muitas palavras e sem muito temperamento. Já em Tempo, eu havia dito, ainda em 2012, que era um álbum que não trazia grandes inovações e nem tinha pretensões de renovar a música brasileira. Era um disco despretensioso, mas prazeroso de se ouvir. Tempo era morno e estava dentro de uma caixinha de surpresas que a MPB guardava e por vezes soltava, mesmo sendo, como disse à época, despretensioso. Dance com Seu Inimigo é frio e está quase congelado, sendo o oposto de seu antecessor. Significações de que Julia Bosco não brilha tal como gostaria de brilhar, mesmo pertencendo a uma família magistral de artistas musicistas.  Com a aparência dos anos oitenta e a carência em relações sutis com o mundo contemporâneo, as músicas que norteiam esse segundo disco são balelas superficiais perto do morno chafariz interpretativo e criativo de Julia. Músicas como Pra Gozar e Volume são chatas, sem falar da caretice total de Tanguloso, que chega a ser péssima. Mesmo tendo ao seu lado o competente Donatinho, o disco não é dos melhores, não tem brilho, não tem sensatez, não tem vanguarda, não tem essência, não tem carisma, não tem cool, não tem bossa, não tem pop nem eletrônico. Desperdício ainda é pouco!

Dance com seu inimigo (2016) / Julia Bosco
Nota 4
Por Marcelo Teixeira

 

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