domingo, 20 de março de 2016

A homenagem de Mônica Salmaso a Chico Buarque


Homenagem ao Chico
Toda boa ou excelente ou mediana ou superficial ou medíocre ou espetacular cantora precisa ter no currículo uma ou duas canções de Chico Buarque. São poucas as cantoras que dedicam um disco inteiramente ao cantor carioca que retratou (e ainda retrata) a alma da mulher num contexto singular e a elencando ao patamar mais elevado. Dedicar um disco a um artista, ainda mais quando esse artista tem a profusão de intelectualidade ácida na veia, é uma tarefa árdua, sensível e ambígua, pois a existência de uma complexidade de nuances em sua carreira será notória. Mas é preciso muita dedicação e muito conhecimento quando se trata de Chico Buarque: é preciso coerência musical,um aprofundamento maioral, uma síntese de sua clareza de ideias e uma arquitetônica química com suas letras. Difícil? Muito difícil. Mas não para a sensacional cantora Mônica Salmaso que conseguiu com maestria e louvor fazer uma bela homenagem ao Chico com o disco Noite de Gala, Samba de Rua (2007 / Biscoito Fino / 26,99) em que desfila com uma categoria incrível parte daquilo que Chico cantou, seja em momentos sublimes, seja em momentos esquecidos. O lado positivo deste disco é que a cantora não se opôs a cantar apenas as mais conhecidas canções de Chico Buarque, mas conseguiu apanhar pérolas desconhecidas, como a ótima Bom Tempo, mesclando com sucessos irreparáveis, como A Volta do Malandro. Mas destaque mesmo neste disco são Basta Um Dia, imortalizada por Clara Nunes no disco O Canto das Três Raças (1976) e Construção, do disco antológico que leva o mesmo título do ano de 1971. A intepretação de Mônica para todas as canções são carregadas de emoção, sensibilidade e proeza e a cantora soube aproeitar todos os seus triunfos musicais para pôr em xeque-mate seus atributos artisticos. O disco é sensacional e Chico Buarque pode descansar em paz porque enquanto houver outras Mônicas Salmasos por ai, sua música estará a salvo por completo.

 

Noites de Gala, Samba de Rua (2007) / Mônica Salmaso
Nota 10
Marcelo Teixeira

quarta-feira, 2 de março de 2016

Qual a graça de Alice Caymmi?





Qual a graça de Alice Caymmi?
A cada ano a mídia brasileira e os empresários do mundo da música, tratam de eleger uma nova cantora que precisa ser diferente da cantora anterior lançada com requintes de diferenciação da cantora anterior e assim por diante. O mundo da música, nos dias de hoje, virou um mercado mal gerenciado, mal digerido, mal intepretado, mal necessário que não compete com as honrarias que muitas cantoras necessitam. A categoria de musicalidade exigida por muitas profissionais do canto precisam entender muitas coisas antes mesmo de subirem ao palco ou assinarem contratos por um certo tempo para poderem excercer seu verdadeiro ofício. Mas essa palavra ofício é pouco herdado para verdadeiras cantoras que buscam o timbre certo, a entonação certa, o álbum perfeito, a música centrada e a diversidade de uma cultura qualquer. Óbvio que não é preciso estarem todas nessas categorias citadas, mas um pouco de presença de palco, um pouco de brilho, um pouco de acidez mórbida, um pouco de relutância, um pouco de história musical e um pouco de carisma vocal contam muito para serem consideradas verdadeiras artistas. E nao é preciso ter parenteco com uma tia muito distante ou uma prima que canta sabe-se lá que estilo para ser considerada uma boa cantora. Nem sempre o produto novo é garantia de brasão familiar. Assim como nem sempre uma tia cantora pode ser referência para uma sobrinha que está iniciando a trilhar pelos mesmos caminhos. Dito tudo isso, eu friso que a família Caymmi é uma das mais reconhecidas e tradicionais famílias musicais que conseguiram (e conseguem) exprimir todo o sentimento embutido em harmonias, canções, festas e música. Mas não consigo entender o porque há sempre um restinho de areia movediça dentro de um âmbito musical tão harmonioso, tão arquitetônico, tão plural. Se de um lado temos Nana Caymmi e seu brilho magistral, sua voz potente e latente e sua presença de palco tão visceral, sua sobrinha Alice Caymmi transcende ao desfavor de todo o universo que a música lhe pede. Alice surgiu na música popular brasileira há pouco tempo e, diga-se de passagem, não é uma cantora de gabarito, não tem competência de palco, não tem voz, não tem estilo e não tem carisma. Qual é, então, a graça de Alice Caymmi? Nenhuma. Em seu segundo álbum, Rainha dos Rainhos (2014 / Jóia Moderna / 26,99), a cantora tenta demonstrar que é uma vertente nova no mercado, forçando a voz em algumas canções e estragando músicas riquissímas com novas roupagens que não servem para o nada. Com um estilo pop gótico dentro da MPB, Alice Caymmi desperdiçou um momento único em sua carreira ao se transformar numa marionete de si mesma, interpretando aquilo que não lhe convém e não lhe serve de estampa. Bom mesmo seria não ouvir Alice Caymmi e lembrar que a única semente feminina boa e com vasta experiência nessa família é sua tia, Nana.

 
 



 Qual a graça de Alice Caymmi?
Nota 4
Marcelo Teixeira