sábado, 3 de dezembro de 2016

Os encontros e as despedidas de Milton Nascimento


A mudança de Milton em 1985
Os anos de 1984 e 1985 foram especialmente intensos para Milton Nascimento. Além de entrar de corpo e alma na campanha pelas eleições diretas para presidente, chegando a compor duas músicas – Coração de Estudante e Menestrel das Alagoas – que seriam cantadas em todos os comícios em praça pública, transformando-se em verdadeiros hinos de liberdade, Milton curou a decepção pela derrota da emenda das diretas no Congresso Nacional com o apoio à candidatura de Tancredo Neves à presidência. Abalado com a morte de Tancredo e vendo o país chorar a morte de seu filho querido, Milton resolvera mudar os ares de sua vida por completo: além de se mudar de Belo Horizonte para Rio de Janeiro, ele já se sentia mais confortável como pessoa e artista, pois era mais valorizado  e respeitado por dentre entre dez artistas mundiais. Por esse mesmo motivo, o cantor e compositor carioca sentiu-se à vontade para fazer o que bem quisesse no ano de 1985 e, para seu bel-prazer, inpirou-se em seus sentimentalismos para desfilar um fiandeiro de músicas emotivas e sensatas para o belo disco Encontros e Despedidas (1985 / Phillips) 19,00), que tem uma ancestralidade e uma africanidade incrível. No início de carreira, Milton assinou a melodia, mas também as letras de várias canções – Canção do Sol e Morro Velho talvez sejam os melhores exemplos de seu talento como letrista. À medida que foi encontrando os parceiros certos, porém, o cantor passou a se concentrar na elaboração das frases musicais, abrindo espaço para que seus amigos Márcio Borges, Fernando Brant e Ronaldo Bastos participassem ativamente de sua obra. Escolhia o parceiro para cada música, determinava o tema, dava palpites e logo voltava-se à criação de novas composições. Era a efervescência de Milton Nascimento dando nova roupagem à sua carreira a partir de 1985. No disco Encontros e Despedidas, o cantor quebrou a regra de todo um protocolo artistíco: as 12 músicas deste álbum foram feitas por Milton com a participação de sete parceiros diferentes e em sete faixas Milton aparece não como autor das melodias, mas o autor das letras. Não chega a ser um disco fácil de ser ouvido, porque Milton utiliza de um artíficio que nos impede de contermos a emoção em faixas como a homenagem à Mandela (Lágrimas do Sul), a africanidade em Raça, a participação forte e vibrante de Clara Sandroni em A Primeira Estrela e na própria canção-título do disco. Nascia aqui um novo Bituca, mais autêntico e mais forte do que nunca.

 

Encontros e Despedidas (1985) / Milton Nascimento
Nota 10
Por Marcelo Teixeira

Nenhum comentário: