sábado, 25 de outubro de 2014

O silêncio de Ceumar em Silencia (2014)

O silêncio de Ceumar
O que seria da música brasileira sem a voz de Ceumar? Poderia formular a questão: o que seria de nós, brasileiros, sem a presença de Ceumar?  Ceumar é uma das vozes mais cristalinas da música brasileira e a cantora está de volta com novo disco, Silencia (2014 / Circus / 26,99), um dos mais belos discos do ano de 2014 e o sexto de sua carreira. Seguindo o limite ampliado em trabalhos antecedentes, a cantora atinge um trabalho acústico, desta vez acompanhada por músicos que criam uma atmosfera perfeita para as suas canções. No novo disco, gravado em São Paulo em dezembro de 2013, Ceumar assina nove faixas com alguns parceiros, e ainda abre espaço para obras de Déa Trancoso, Kiko Dinucci, Vitor Ramil e Osvaldo Borgez. A direção musical de Vincent Ségal, também responsável pelo violoncelo e pela maioria dos arranjos, é imaculável. A voz envolvente de Ceumar é suturada com afetuosos arranjos de cordas e percussão, pincelados aqui e ali por um clarinete ou um acordeom. Silencia já ganha a atenção pela capa: um autorretrato da cantora, com cabelos volumosos e negros, envolto de uma capa branca, que nos traduz uma calma serena, repleta de luz e harmonia. Majestoso do começo ao fim, o disco é um dos melhores da carreira de Ceumar, que volta mais brasileira que nunca mesmo estando radicada na Holanda. A definição de Silencia, talvez, seja a voz ímpar da cantora: impossível não se encantar com a doçura de sua voz, tão rica, tão saudável e tão acalentadora. Há força no seu canto e no seu campo musical e por esses motivos, Ceumar, mineira que és, procura demonstrar o quão verdadeiro é seu canto. Silencia promove o silêncio, a voz do sereno, a palavra mais doce que por vezes necessitamos. Ao encerrar o disco, Ceumar canta como num mantra: o que este silêncio tem a dizer? A ideia de homenagear o silêncio não foi um dos pontos de partida do disco, mas sim o fim de um processo imaginário, de liberdade intuitiva. A fala mansa de Ceumar ajudou e muito a ocupar espaço nesse silêncio de redemoinhos magistrados e há por detrás de cada música uma busca pessoal de silenciar os vários momentos de sua vida. Portanto, Silencia é um disco biográfico de Ceumar.  No lugar de barulho, silêncio. No lugar de guerras, silêncio. Ceumar soube como ninguém interpretar cada faixa de seu disco, buscando inspirações no silêncio escondido em meio a orações, mantras, cânticos e meditações. Se o silêncio quer dizer paz, então o novo disco de Ceumar é um convite a paz que muitos deveriam encontrar e obter.

 
Silencia / Ceumar
Nota 10
Marcelo Teixeira

sábado, 18 de outubro de 2014

Um certo Lobão sem razão

Lobão sem razão
Há uma grande diferença entre o Lobão dos anos 80, o Lobão dos anos 90 e o Lobão do ano 2000: nos anos 80, o cantor, compositor e roqueiro Lobão liderava a lista dos cantores mais poderosos da música popular brasileira e era considerado por muitos como um dos legítimos pai do Rock. Já nos anos 90, o mesmo Lobão passou a sofrer com a entrada definitiva do sertanejo caipira (porém mais refinado) de Chitão, Xororó, Leandro, Leonardo, Zezé, Luciano e por aí vai, misturado com a onda pagodeira de um lado e o axé de Daniela Mercury do outro. A onda roqueira de Lobão passou a ter uma fase mais obscura, fechada e concentrada em seu próprio nicho cultural. Nos anos 2000 tudo mudou: Lobão deixou de ser Lobão. O Lobão musico, o Lobão compositor, o Lobão dos palcos. Largou sua própria cultura para virar apenas uma cópia sem graça de sua própria cara. Diferentemente de grandes nomes do rock nacional, como Renato Russo ou Cazuza (que infelizmente se foram cedo demais), Lobão deixou sua imagem de cantor irracional lá nos anos 80 para se ver no ostracismo de sua inteligência agora no século 21. Deixou de ser o cantor e compositor de uma geração para se aventurar a dizer abobrinhas sem pé nem cabeça sobre o mundo da política (preferindo um partido qualquer) e adentrando em uma esfera a qual não está totalmente por dentro: o da crítica especializada. Lobão sempre foi um crítico voraz de vários assuntos, inclusive contra o Brasil (Brasil este que o revelou ao grande público) e bradou em letras de músicas aquilo que muitos queriam bradar, mas que não conseguiam. Nos anos 80, Lobão tentava competir com o grande astro do rock nacional, Cazuza, sobre letras politizadas de um Brasil sem futuro e tentava engatar músicas de efeito moral para que uma nação inteira pudesse ir de encontro suas ideologias. Sim, nos aúreos tempos de sua carreira magistral (se é que teve de fato!), Lobão tentou intimidar os jovens a lutar por seus direitos ao som de músicas como Vida Bandida, que influenciou uma geração inteira contra as mazelas de um país que tentava o seu desenvolvimento. No CD Zii e Zie, Caetano Veloso homenageou o cantor com a música Lobão Tem Razão, cujo reverencia o roqueiro. Se na música Caetano diz que o cantor tem razão sobre várias coisas, atualmente o mesmo Lobão anda desejando e muito: publicou um livro que não altera os fatores da indústria escrita nem dá aval para a cultura brasileira ou para quem quer ter uma cultura decente; lançou discos independentes em bancas de jornais que não acrescentou em absolutamente nada no comércio fonográfico e recentemente se autodefine crítico de governo numa revista que induz as pessoas a serem burras. Por que não tentar voltar lá atrás e rever seu passado, Lobão? Porque de vida bandida ele entende como ninguém. Não adianta dizer que Lobão está numa ditadura musical, porque muitos cantores de seu tempo (e muitos antes mesmo de seu tempo), ainda produzem discos sensacionais e com maior aval do grande público e aceitação da crítica verdadeiramente especializada. Lobão não sabe o que pensa, não sabe o que diz, não sabe o que é o Brasil. E não sabe porque nunca teve vontade de conhecer, tendo em vista que suas músicas sempre foram muito aquém de sua astúcia ímpar. Será que Caetano Veloso se arrependeu de compôr Lobão Tem Razão? Sugiro que o título seja alterado para Lobão Não Tem Razão.
 

Um certo Lobão sem razão
Marcelo Teixeira

sábado, 11 de outubro de 2014

A morte prematura de Alexandre Silpert


Morre Alexandre Silpert
O Mais Cultura Brasileira está de luto. Luto eterno! Luto que não foi premeditado, nem tinha a pretensão de acontecer. Mas a morte veio e deu uma rasteira em todos nós. Hoje abro uma grande exceção para poder expressar aqui o meu sentimento de tristeza, de angustia, de lamentos e de sofrimento pela morte do jornalista Alexandre Silpert, carioca da gema e grande adorador da música popular brasileira por um todo, e que nos deixou no último dia 05. Se a morte é algo tremendamente chata, saber quem morreu é o pior dos sentimentos: Alexandre Silpert não era apenas um jornalista. Ele era mais que isso: um homem de cultura, um homem da música, dos bastidores (ele adorava usar essa palavra em nossas conversas), um homem do entretenimento, das amizades, das viagens, do mundo. Eu não conheci Alexandre Silpert; fora ele quem veio até mim. Dizia-me para continuar a escrever sempre e sempre e sempre, pois o que eu escrevia era algo notório para o futuro, para a posteridade, para a cultura brasileira, pois era a coisa mais rara encontrar algum blog que abordasse apenas a música brasileira. Quando decidi escrever três vezes na semana, Alexandre logo rebateu: “escreva duas vezes, quiçá uma”. E isso foi um desejo dele, pois o leitor ficava mais ansioso para saber sobre o novo artigo. Graças ao seu lado cultural, conheci trabalhos maravilhosos de artistas sensacionais: Gerlane Lops, Tio Samba, Dani Calazans, Leo Russo e a nossa mais recente conversa estava voltada para o cancioneiro de André Rio, cantor recifense. Todas as minhas viagens (e as dele também) era um motivo de comentário. Todos os espetáculos eram motivos de conversas afoitas e sinceras. Conversamos muitos sobre os prêmios musicais, sobre novas vozes, sobre teatro, sobre música e me sinto honrado em poder ser escolhido por ele (dentre muitos) para poder divulgar o seu trabalho através do meu papel de blogueiro e divulgador de música boa, como ele mesmo dizia. Alexandre Silpert morreu novo. Alexandre Silpert morreu jovem. Pessoas com a genialidade de Alexandre Silpert não mereciam morrer. Um infarto o levou. Mas Alexandre Silpert foi cedo demais. Até um dia, amigo!

 

A morte prematura de Alexandre Silpert
Marcelo Teixeira