quarta-feira, 24 de julho de 2013

Morre Dominguinhos


Luto eterno
Sai de cena o maior sanfoneiro do Brasil. Dominguinhos se foi para o andar de cima e todos nós, mais uma vez, estamos órfãos de uma boa música, de um bom cantor e de um excelente compositor. A foto de Dominguinhos talvez reflita tudo o que um artigo inspire: estamos de luto. Morreu Dominguinhos, o mais autentico discípulo do Rei do Baião. Luiz Gonzaga, antes de partir, conferiu a Dominguinhos a incumbência de sucedê-lo no teclado da sanfona; o que fez com primazia. O forró mais uma vez veste-se de luto dando adeus a este mestre e ícone da música mais nordestina e popular do nosso querido Brasil. Certamente o Rei Gonzaga o receberá sorrindo, e nós nos despedimos com gratidão e o coração apertado. Que Deus lhe retribua por toda alegria que espalhou pela terra com a sua genialidade musical.

 

 

Morre Dominguinhos

 

Marcelo Teixeira

sexta-feira, 19 de julho de 2013

O belo e provocador som de Junio Barreto


Um belo disco
Quando surgiu com seu primeiro álbum solo no longínquo ano de 2004, Junio Barreto se apresentava ao pequeno público que o havia notado como um legítimo sopro de novidade e renovação. Se naquele momento a velha MPB surgia de forma desgastada e apresentando uma série de contribuintes pouco inventivos para nossa música, o pernambucano e seu homônimo debut rompiam de forma primorosa com essa lógica, proporcionando um registro carregado por uma identidade própria, letras que se esquivavam do básico, além de uma unidade instrumental peculiar. Passado o lançamento de seu primeiro registro, que acabou contando com o elogio da crítica e o suporte do outros representantes da nossa música, Barreto entrou em uma espécie de silêncio. Uma quietude musical que após sete anos acaba finalmente rompida, com o músico mais uma vez nos impressionando com a vastidão de seus versos, sua voz e sua detalhada melodia. Longe do aspecto demasiado específico de sua estréia, o músico converte seu recente projeto em um registro ampliado em todos seus aspectos.

 

Carregado pelo nome de Setembro (2011, Independente, 23,99), o segundo álbum de Junio Barreto faz crescer dez aprimoradas composições, faixas conduzidas pela fluência do samba, doses sintomáticas de rock e os velhos traços da música regionalista nordestina. Organizado em pouco mais de 30 minutos, o disco transpira os peculiares versos do músico, que costura elementos do cotidiano, pequenas exaltações ao amor e um variado jogo de referências que delimitam de maneira vasta a obra do compositor.

 

Mais de sete anos separam o pernambucano Junio Barreto do último trabalho em estúdio por ele apresentado – um homônimo trabalho lançado em meados de 2004. Durante esse tempo o músico parece ter se especializado, afundou-se em melodias, buscou novas possibilidades aos versos anunciados e acima de tudo, não perdeu a unidade e a beleza instrumental que explorou ao estrear. Ainda fluindo dentro dos campos da MPB, porém se afastando de quaisquer obviedades, o músico proporciona pouco mais de 30 minutos de faixas suavizadas, canções que parecem funcionar como uma chave para adentrarmos os pensamentos do artista, músicas como a branda Fineza ou a doce Noturna que reforçam toda a originalidade e a maestria de Barreto. De hoje em diante, setembro (o mês) ganha novo significado e inclusive uma trilha própria.

 

Setembro – Junio Barreto

Nota 10

Marcelo Teixeira

quarta-feira, 17 de julho de 2013

Iaiá - de Mônica Salmaso


Ótimo disco, ótima cantora
O nome do disco e a homenagem a Clementina de Jesus logo na faixa de abertura dão as primeiras pistas da brasilidade de iaiá, CD da cantora paulista Mônica Salmaso. Nele, o timbre docemente grave e cheio de personalidade da intérprete assinala musicalmente uma identidade brasileira sem deixar de ser universal. Essa busca se confirma no interesse de Mônica pelas pessoas de seu país, cantando a religiosidade e o humor, a poesia e a sobrevivência e isso acontece desde o CD Trampolim, que a persegue no seu jeito de falar do Brasil. Mônica Salmaso volta a ter como grande companhia de seu trabalho a liberdade musica em iaiá. E a canção em si já dimensiona o aspecto universal do CD, que marca a sua estréia na gravadora Biscoito Fino em grande estilo. As reflexões tornam ainda mais compreensíveis o encontro entre o simples e o complexo no conteúdo de iaiá, que dialoga com variadas vertentes da MPB, do samba de gafieira Cidade lagoa (Sebastião Fonseca/Cícero Nunes) às experimentações de Tom Zé em Menina amanhã de manhã (parceria com Perna). O resultado desta última, no olhar do crítico entusiasmado que vos escreve da intérprete, ficou cheio de alegrias, de saudades e de Brasis.

 

Do embalo puxado para o maxixe de Doce na feira (Jair do Cavaquinho/Altair Costa) ao samba choro Cabrochinha (Paulo César Pinheiro/Maurício Carrilho), iaiá (2004 / Biscoito Fino / 26,99) tem consistência, sofisticação e espontaneidade. Boa parte da sonoridade do CD é fruto dos quatro anos em que Mônica Salmaso ficou sem gravar, caindo na estrada e fazendo shows com músicos de linguagens e universos bem diferentes. As faixas têm estrutura melódica e harmônica simples - como Estrela de Oxum (Rodolfo Stroeter e Joyce) e Moro na Roça (Xangô da Mangueira e Zagaia, tema folclórico popularizado por Clementina de Jesus) - e, ao mesmo tempo, experimenta canções mais complexas em sua estrutura. Dentre elas, a delicada Assum Branco (José Miguel Wisnik) e uma pérola de Chico Buarque chamada Sinhazinha (da trilha sonora do filme Para Viver um Grande Amor).

A riqueza do versátil time de compositores também chama atenção em iaiá, conciliando obras de diversos estilos e épocas, sem que o resultado se perca numa colcha de retalhos. Esse, aliás, foi o maior desafio para Mônica Salmaso e Rodolfo Stroeter, produtor e co-diretor musical do disco. Um clima de final de tarde, de depois da chuva, ambienta sua interpretação para a faixa Onde Ir, composta por Vanessa da Mata. E após ter selado a paixão pela obra de Dorival Caymmi nos discos Trampolim (1998) e Voadeira (1999), Mônica canta, desta vez, É Doce Morrer no Mar, clássico do compositor baiano. Reafirma também a sua admiração por Tom Jobim e Vinicius de Moraes (Por Toda a Minha Vida). A saudação a Sílvio Caldas fecha o disco com chave de ouro no ótimo partido alto Na Aldeia (gravado por Sílvio na década de 30), com participação especial de Teresa Cristina.

Vale a pena conferir.

 

Iaiá / Mônica Salmaso

Nota 10

Marcelo Teixeira

sexta-feira, 12 de julho de 2013

A parte mais oca de Paula Fernandes - a sua música!


Ela ainda utiliza playback nos shows
Quanto mais porcaria, maior o ibope. Sei que a cafonalha brasileira irá execrar esta postagem e certamente irá discordar da minha opinião, mas não importa, terão que engolir, pois é a mais pura verdade. Sinceramente eu acho a mineira Paula Fernandes um dos maiores desperdícios da música tupiniquim, pois a moça tem um prodigioso talento vocal, a despeito das falsetas e estilo meio fanhoso que adotou depois que criou fama nacional, com uma baita voz, que é mais do que razoavelmente afinada e toca um violão, sem ser nenhuma virtuose, até que acima da média. Mas o repertório, pelo amor de deus, é lastimável, de um mal gosto quase sem precedentes. E não digo isso por ela cantar músicas sertanejas, pois mesmo não sendo fã do gênero, sei reconhecer que existe muita coisa boa no universo sertanejo. Porém o repertório que esta coitada escolhe (ou quem escolhe por ela) é insuportável, inaudível para qualquer um com um certo bom gosto, mas claro que gosto não se discute, apenas mal gosto comenta-se. Realmente uma pena, pois fico imaginando se ela tivesse um repertório tipo Cássia Eller, por exemplo, seria arrasadora e muitíssimo mais respeitada, musicalmente falando.

Um outro aspecto que a leva diretamente para o cenário de lixo musical brasileiro é a tônica brega e cafona de seus figurinos. Chega a dar raiva ver uma mulher tão linda e charmosa se vestindo da maneira que se veste. É totalmente inconcebível e lamentável. Mas não estou aqui para criticar o seu vestimento e sim criticar a sua música. Ouvi seu novo disco, Um Ser Amor (2013 / Universal Music / 9,99) e confesso que senti nojo total. A música de trabalho está na novela global e só o refrão salva. Paula está cantando ainda mais fanhosa e melodiosa e suas letras não significam nada.

Enfim, Paula Fernandes tem talento, é bonita e gostosa, mas joga tudo isso no lixo e merece estar no limbo do cenário musical brasileiro, sendo motivo de pena e chacota para qualquer crítica categorizada, muito embora isso não pareça fazer muita diferença para ela, já que graças aos seus fãs desprovidos de bom gosto, ela fatura alto com seus discos e shows.

O disco tem apenas quatro músicas, mas o suficiente para não ouvirmos mais. Paula Fernandes cansa. Irrita. Machuca nossos ouvidos. E em Um Ser Amor (título estranho para uma pessoa estranha) tenho toda certeza de que Paula está ainda mais contida, timida, reservada, embora muitos digam o contrário. Paula ainda não caiu no meu conceito porque consegue ser uma cantora mediana, mas seus discos são popularescos demais. No dia em que ela fizer alguma coisa que realmente valha a pena parar, ouvir e refletir, aí terei a certeza de que poderei utilizar este espaço para agradecer a sua musicalidade.

Por enquanto, eu a desprezo.

 

A irritante Paula Fernandes em novo disco

Nota 0

Marcelo Teixeira

quarta-feira, 10 de julho de 2013

O tempo de exílio musical de Chico César


Álbum de 2006: o melhor de Chico
Desde 1995 quando lançou Aos Vivos, seu primeiro disco, Chico César tem se revelado um compositor e intérprete de grande talento. Cuscuz Clã (1996), Beleza Mano (1998), Mama Mundi (2000), Respeitem meus cabelos, brancos (2002) e De uns tempos pra cá (2006) reiteraram suas qualidades. Sem tirar nem pôr. Embora críticos afoitos e imbecis e intolerantes e carcarás, impressionados antes de mais nada com a baixa vendagem de seus discos, estejam agourando de plantão por sua derrocada derrota. Bobagem. Basta ouvir com atenção os seis discos de Chico César para perceber neles uma continuidade admirável do processo criativo. E hoje o talento de Chico César cruza fronteiras e se estende da Europa ao Japão, da Argentina aos Estados Unidos. Enfim: de Catolé para o mundo. Este paraibano de Catolé do Rocha tem se revelado um compositor de primeira linha da MPB. Seu processo de criação segue as diretrizes antropofágicas de Oswald de Andrade que apregoa a deglutição de toda e qualquer cultura, sem espécie alguma de preconceito, visando à produção um objeto singular, genuíno e, por que não dizer, brasileiro. O Tropicalismo bebeu fartamente nas águas do saber oswaldiano. Juntou Carmen Miranda com Miles Davis; Chacrinha com Chaplin; samba de roda com atualismo, Eisenstein com Vera Cruz, Mondrian com Di Cavalcanti, Vicente Celestino com Stravinsky. O resultado todos conhecemos: um forte movimento artístico-musical que hoje, por exemplo, deita suas raízes sobre os nomes mais interessantes da MPB, das artes plásticas, do teatro, do cinema e até da moda.

Chico César é uma legítima cria do Tropicalismo. Ele incorpora conscientemente o projeto tropicalista, nas letras, nas melodias, nas roupas, nas performances, no palco, no uso da voz. Sua atuação no cenário artístico nacional e internacional apaga as fronteiras entre a cultura considerada erudita e a cultura considerada popular. Associa o forró ao jazz, a ciranda ao reggae, a poesia concreta ao cordel, o haikai a letras discursivas. Curte misturar Augusto de Campos com Cego Aderaldo; Woody Allen com Mallarmé; cavalo de pau com sandália havaiana; nirvana com seca nordestina; Jimmy Cliff com Mandela.

Antenado com as coisas do nosso tempo, suas canções sempre mexem conosco. Umas pelo ritmo; outras, pelas melodias; outras pelas letras; e outras, finalmente, por reunirem todos estes itens com qualidade. Percebe-se que em sua obra desponta uma consciência de linguagem, ou seja, um projeto intencional de construir a criação, de experimentar com as linguagens, de buscar algo novo e, ao mesmo tempo, harmônico. Afinal, antes de mais nada, uma canção popular tem de associar o belo ao agradável. Há exceções: ótimas canções, porém nada agradáveis. Não me refiro a elas. Busco um consenso mais amplo: canção é espaço poético de letra e música cantadas harmoniosamente. Cantadas com a naturalidade de quem fala. Chico César canta como quem fala. Às vezes ele fala mesmo, como em Béradêro, de 1995, ou Solidariedade, Papo cabeça, ambas de 1997, Aquidauana, 2000. Nos dois discos mais recentes Chico César tem feito canções propriamente ditas. Está dançante em Respeitem meus cabelos, brancos e melancólico em De uns tempos pra cá. Mas sempre muito musical.

Chico César faz sua antropofagia se servindo no prato da História da MPB, da Poesia, da Cultura Popular, da Política Internacional, etc. Come até se lambuzar. Um exemplo rápido: no forró Paraíba, meu amor (1998; o título já nos remete ao título e ao refrão de São São Paulo, do eterno tropicalista Tom Zé), o compositor paraibano associa o forró pé-de-serra e a voz de Flávio José a uma letra sofisticada que lá pelas tantas diz: não quero chorar / o choro da despedida / o acaso da minha vida / um dado não abolirá. A cadência envolvente do forró cai bem na citação dos célebres versos mallarmaicos: um lance de dados / jamais abolirá o acaso. Casar a poesia de Mallarmé com as festas de São João é instalar a parabólica no mangue, como apregoa o movimento musical Mangue Beat, também herdeiro do Tropicalismo.

Versos à frente, na mesma música, o compositor refere-se à fogueirinha de laser que ilumina os festejos do meu coração, cruzando as festas do interior com o novo coração do poeta que, longe da terrinha natal, e agora Pós-moderno, pulsa no ritmo envolvente do forró.

O tom melancólico de De uns tempos pra cá, seu trabalho conciso, explora com muita propriedade o uso de cordas do Quinteto da Paraíba sob arranjos de Nelson Ayres, Mário Manga, Adail Fernandes e Nailor Proveta. O resultado é um disco com nova sonoridade dentro da produção de Chico César. A percussão é suave e se destaca apenas na última faixa (a mais rítmica) nas mãos ultracriativas de Escurinho em Orangotanga. Todas as músicas são de Chico César, à exceção de A nível de, de João Bosco e Aldir Blanc e Cálice de Chico Buarque e Gilberto Gil e Outono aqui, uma versão feita pelo próprio Chico. E 1 valsa p/ 3 é a única feita em parceria com Chico Pinheiro.

Elba Ramalho tem participação especial na arrigobarnabeana Por causa de um ingresso do festival matou roqueira de 15 anos. Aparente paradoxo: Elba canta contida e ousadamente. Sua ousadia está no modo de canto-dizer a canção, indo do melódico ao atonal, sem rebuscamentos. Esta é a Elba que fica. Ou, ao menos, a que deve ficar. E Chico César sabe extrair o melhor da intérprete. Esta canção ainda traz uma bem-vinda novidade: a voz e a autoria de Pedro Osmar na falação de um texto, no mínimo, provocador. A faixa, de nome extenso, tirado de uma manchete d um jornal carioca , por ocasião do I Rock in Rio, é uma das mais bem realizadas, num disco de rigores.

Chico César: o tempo passa, e ele fica ainda mais zeloso com a coisa musical. Suas composições e regravações revelam um compositor e um intérprete insatisfeitos com os altos níveis atingidos em discos anteriores. É preciso ouvir De uns tempos pra cá. O disco mereceu pouca atenção da crítica e quase não toca no rádio. Será que teremos de amadurecer para assimilarmos o talento deste paraibano? Ou esperar a chegada de um novo David Byrne para um novo Tom Zé?

 

De uns tempos pra cá / Chico César

Nota 10

Marcelo Teixeira

sexta-feira, 5 de julho de 2013

Wanessa Camargo está americanizada


Wanessa voltou americanizada
Herdar o talento artístico do pai (ou da mãe), ser introduzido no meio artístico por conta deste talento inato e de uma providencial e desejável ajudinha não deveria ser motivo de vergonha para ninguém. O problema com Wanessa (ex-Camargo) é que mesmo não tendo o que herdar de seu pai além do sobrenome, não desenvolveu suficientemente nenhuma habilidade que justificasse seu prolixo portifólio. Aliás, NOME é um ponto sensível da estratégia de reposicionamento de , como é chamada pelos desafetos. Com o firme propósito de descolar sua imagem e sua carreira da sombra do pai, o filho de Francisco e já aposentado Zezé Di Camargo, ela desceu aos porões da ingratidão renegando o próprio sobrenome que, de alguma forma no passado, lhe abriu portas sempre trancadas a gente muito mais competente.

O que talvez poucos percebam é que apesar do pouco gás para televisão, estampa muitas capas de revista e aparece em anúncios publicitários com relativa frequência. Eis aí o dilema da carreira de Wanessa: ser uma cantora que faz propagandas ou uma atriz de propagandas que se traveste de cantora para ‘anabolizar’ o retorno das campanhas que protagoniza?

Na esteira desse aspecto meramente mercantilista de sua trajetória, não se pode deixar de observar que a natureza fez a sua parte e a trouxe aos seus quase 30 anos, momento em que começam a surgir as dificuldades de se vender produtos a adolescentes para quem ela é quase uma anônima. Por outro lado, suas antigas fãs amadureceram e não caem mais nas mesmas armadilhas dos anunciantes. Seus estrategistas quebram agora a cabeça para cumprir a missão de conduzir essa antiga estrela adolescente de terceiro escalão ao posto de resignada e medíocre estrela pop, se é que possuem competência e tempo de vida para tanto.

Suas várias mudanças de rumo do ponto de vista profissional, estético, musical e até do próprio nome artístico, transformaram seu currículo num rol de equivocadas tentativas de copiar e ‘abrasileirar’ modelos de sucesso estrangeiros, como Mariah Carey e Shakira. Estas medidas imprimiram-lhe o rótulo de inconstante, perdida nos peculiares meandros de sua carreira, contrariando até seu discurso de que é uma artista de vanguarda, assertiva que carece, evidentemente, do mínimo fundamento.

Talvez falte a Wanessa Di Camargo a sinceridade de uma pessoa próxima que lhe indique a direção de uma verdade crua, mas libertadora. A verdade de que as luzes de sua carreira já se apagaram e que é hora de refugiar-se no que lhe resta de dignidade, seja na escuridão dos bastidores ou no silêncio do sepulcro que já lhe cabe.

O que nos restará de Wanessa será a memória de um cartaz de propaganda amarelado, em algum display esquecido num ponto de ônibus qualquer. Seria muito melhor ela cantar as músicas de Inezita Barroso, Sinhô, Rolando Boldrin, que são os verdadeiros mestres na música caipira e não o que essa moça anda cantando por ai.

Se ao menos ela cantasse alguma coisa que prestasse...

 

Wanessa Camargo está americanizada

Marcelo Teixeira

quinta-feira, 4 de julho de 2013

O pior dos piores: Tribalistas


O trio: melhor sozinhos
Há alguns meses, a revista Playboy, deu provas concretas da decadência que atinge todo o grupo Abril ao tentar, com críticos da própria editora, oriundos de publicações medíocres como a Veja ou Contigo, elaborar uma lista do que seriam os 10 piores discos nacionais, e citou, juntamente com artistas renomados, os Tribalistas. Certamente a intenção devia ser polemizar, mas certamente nem isso conseguiu diante da baixa qualidade dos textos e da falta de conhecimento dos seus críticos. Não estou eu aqui dizendo que sou o melhor crítico musical ou cultural do país, mas acho que eu poderia escrever melhor uma resenha, assim como alguns outros críticos que conheço e admiro. Os textos são péssimos, os publicados pela revista. E agora que o seu dono majoritário faleceu (para alegria geral da Nação), a revista tende a piorar ou até mesmo a fechar.

Dentro de um cenário de axé music, sertanejo universitário e outros estilos que tocam por ai que não apareceram, citar como pior nomes como Milton Nascimento, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Rita Lee e o próprio Tribalistas soa como algo completamente ridículo. Mas deixando as polêmicas de lado, ou até mesmo para reforçá-las, acho que esse disco merece sim aparecer em listas como esta, mas certamente entre os piores do mundo. Está certo que a superexposição de algumas canções na época do lançamento (incluídas em trilhas sonoras de novelas), acabou desgastando-as, mas nada que desmerecesse esse trabalho que, do meu modo de ver é, antes de tudo, resultado de uma sintonia natural entre três grandes artistas em um momento único da carreira de cada um, mas num momento único erroneo.

Produzido pela própria Marisa Monte e contando ainda com participação Dadi Carvalho, Cézar Mendes e Margareth Menezes entre outros, o disco inicia com um sonoro Bom dia Comunidade na voz de Arnaldo Antunes em Carnavália, uma verdadeira canção abre-alas, na qual se sobressai o perfeito casamento vocal entre Marisa Monte e Arnaldo Antunes, levados por uma percussão de Carlinhos Brown que parece feita sob medida para o disco: Vamos pra avenida ...Desfilar a vida...Carnavalizar.

As duas canções seguintes (Um a Um e Velha Infância) são baladas que estouraram nas rádios na época do lançamento e de tanto tocarem, acabaram cansando um pouco. São músicas chatas, horrendas, cansativas e destruítivas. Passe em casa é uma das melhores em minha opinião: música leve, solta, com uma percussão bem original criada por Carlinhos Brown. É daquelas músicas que dá gosto em ouvir. E só!

Em O amor é Feio, destaca-se o barítono Arnaldo Antunes em primeiro plano, com arranjo que dá a cara de música infantil, daquelas de péssima qualidade que foram produzidas recentemente. Chata demais.

Depois das canções É Você e Carnalismo, que possuem a cara (além da voz) da Marisa Monte e poderiam facilmente ter saído de um de seus últimos discos, principalmente o horrível Memórias, Crônicas e Declarações de Amor (músicas que ultimamente não deixam muita saudade), Mary Cristo é praticamente uma doce ilusão de natal, ideal para ser ouvida nessa época do ano (dezembro). E caso você se lembre do disco também.

...quem está falando é a fada madrinha. Iniciando com a fala de uma criança, neta de Chico Buarque, Anjo da Guarda é outra que parece música para criança, acompanhada por uma riqueza de sons e percussão bem criativa, mas acaba sendo cantada por crianças que não sabem o que quer. Salvo a única exceção: a neta de Chico Buarque. La de longe vai no mesmo ritmo, transmitindo aquela chatice tão predominante na maior parte desse disco, assim como Pecado é lhe deixar de molho, a canção seguinte.

Eu sou de ninguém...eu sou de todo mundo... e todo mundo é meu também... Já sei namorar é outra que teve como maior pecado a superexposição na época, com o consequente desgaste natural. Mas nada que uma depressãozinha não resolva. Depois de alguns anos, agora consigo voltar a escutar e, melhor ainda, tentar achar os erros como que com certeza a canção têm. Sem pretensão.

Pé em Deus...e Fé na Taba. O disco encerra com Tribalistas, praticamente uma canção manifesto que consegue transmitir em baixo astral a ideia (e a imaturidade) de como o disco foi concebido. Um resultado de um encontro de três músicos que estavam em perfeita sintonia no pior momento: dois homens e uma mulher...Arnaldo, Carlinhos e Zé (apelido da Marisa, decorrente de Marisete).

Como os próprios autores definem, esse disco foi resultado natural de um encontro sem pretensões na Bahia (para depois ser gravado no Rio). As músicas foram nascendo com naturalidade, sem pressões, decorrente de uma sintonia que já se fazia presente nos discos solos de cada um deles. Trata-se de um momento em que a carreira de cada um deles convergiu e o disco foi o filho de parto normal. Depois cada um continuou o seu caminho. Talvez até mesmo o sucesso do disco na época tenha surpreendido-os também (mais de 1,5 milhão de cópias vendidas em época já com internet).

Como a própria canção que encerra o disco previu, o tribalismo é um antimovimento... que vai se desintegrar no próximo momento. Percebe-se que, de cara, o disco era mesmo para ser um filho único desse encontro de parceiros musicais. Quanto às críticas, também souberam responder com alto estilo no próprio disco, afinal os tribalistas já não querem ter razão...não querem ter certeza, não querem ter juízo nem religião. E esse erro foi cometido por tr|ês cabeças pensantes.

 

Tribalistas – o pior disco do mundo

Nota 3

Marcelo Teixeira

quarta-feira, 3 de julho de 2013

Um estrangeiro chamado Caetano Veloso (1989)


A obra-prima de 1989
Um dia, Gilberto Gil disse que não acreditava em deuses nem em Deus e que preferia crer no ser humano, no homem e não em quem criou o homem. Para tanto, apostou todas as suas fichas em um cabeludo baiano (assim como ele) e depositou todas as suas esperanças nele, pois ele trazia a musicalidade dentro de seu corpo. Sendo assim, Gilberto Gil passou a crer apenas em Caetano Veloso. Caetano Veloso é tido como dos maiores gênios da MPB. Isso se dá, em larga medida, pelo que produziu entre Transa (1972) e Estrangeiro (1989). Durante esses quase trinta anos e meio, o compositor baiano apresentou ao público uma música de altíssima qualidade. Curiosamente, as duas pontas desse ciclo trazem o melhor do melhor. Se Transa é maravilhoso em sua simplicidade e tristeza no exílio londrino, Estrangeiro é sofisticado, colorido e aponta para o futuro da música brasileira, mesclando tecnologia e influências diversas. É desse último disco que falo agora. Produzido por Peter Sherer e Arto Lindsay (esse último trabalharia, anos depois, com Marisa Monte e também com David Byrne), Estrangeiro começa chamando a atenção pela capa - a reprodução de uma pintura de Hélio Eichbauer para o cenário da peça de Oswald de Andrade, O rei da vela em montagem do Teatro Oficina, no ano de 1967. Ecos do tropicalismo, referência constante na obra de Caetano.

A faixa de abertura é O Estrangeiro, o grande momento do disco. Com a participação dos produtores Sherer e Lindsay e também com Naná Vasconcelos na percussão e voz, a música é fenomenal e cheia de nomes próprios. Um piano acompanhado de bateria eletrônica e algumas distorções de fundo seguem Caetano, que recita os primeiros versos. E por aí segue, em sua letra quilométrica e recheada de citações. Mais de seis minutos de uma bela produção, que conta ainda com um interessante solo de guitarra. Sem dúvida, um dos maiores momentos da MPB em todos os tempos, apesar da discordância de alguns.

Na sequência, aparecem Rei das cores, Branquinha e Os outros românticos, três momentos fortes e extremamente bem conduzidos. Fica claro o peso da mão de Lindsay, que influenciava muito o compositor baiano à época das gravações. O disco traz ainda uma parceria em inglês do trio Caetano-Sherer-Lindsay, Jasper, e as medianas (quando comparadas com as demais) Este amor, Outro retrato e Etc. Assim como em outros trabalhos, Caetano dedica muitas dessas canções a antigos e eternos amores e amigos (a ex-Dedé Veloso, Paulinha Lavigne e Jorge Mautner).

A última canção é a mais alegre e colorida da obra. Meia-lua inteira, do até então desconhecido Carlinhos Brown (Carlinhos por parte de mãe, Brown do mundo, diz o genro de Chico Buarque), foi o grande hit do disco e chegou a fazer parte da trilha sonora de uma novela global. Com o próprio Brown na percussão e uma levada de guitarra deliciosa, fecha Estrangeiro em elevadíssimo astral.

Estrangeiro, de todo modo, redime o baiano dessas críticas. Um disco para ser escutado e escutado e escutado, sempre.

 

Brilhantemente brilhante.

 

Estrangeiro / Caetano Veloso

 

Nota 10

 

Marcelo Teixeira

 

terça-feira, 2 de julho de 2013

Naldo, Anitta e os piores da música atual


Naldo: a pior revelação musical
Naldo engoliu Latino, que engoliu o desejo de conhecer o ostracismo da TV e de grandes mídias. Naldo recentemente veio embalado por um grande sucesso que o povo de massa encefálica oca aderiram ao cardápio musical, fazendo que o cantor estourasse de ponta a ponta do país. Se Latino era o queridinho da música de quinta categoria no Brasil, hoje o posto é reconhecidamente do canastrão Naldo.  MC Leozinho, Tati Quebra-Barraco, Bonde do Tigrão, MC Marcinho, Claudinho Nervoso, Bonde do Lambe Lambe, MC Cris, Os Magrinhos, Latino, Deize Tigrona, MC Buiú e MC Alex deveriam ser presos, torturados, encaixotados e jogados ao mar, de preferência próximo a tubarões brancos. Se esse tipo música reflete a vida e cultura das favelas, eles que fiquem por lá cantando suas letras imbecis, machistas e marginais. O Brasil já é tão violento, e ainda por cima temos que aguentar um tipo de música que torna os jovens ainda mais burros, desinteressados e intolerantes. O funk carioca, hoje comandado por homens e mulheres de baixo nível, não é cultura, é a marginalização da música brasileira, o podre, o esgoto que subiu. As mulheres aprendem a serem biscates logo cedo, a serem as cachorras do negócio. Já os homens crescem machistas, malandrões e achando que mulher é igual banana – come e joga a casca fora.

Anitta é o pior elemento musical que surgiu nos últimos tempos e eu não sei quanto tempo ela ficará no comando de um microfone. Bonita, sim, mas muito vulgar e muito chata. Adepta do funk melody, que mistura o romantismo à batida de tamborzão --o famoso e onipresente tchu, tcha--, Anitta já é chamada por muitos no meio de o Naldo de saias, em referência ao cantor de Amor de Chocolate, o hit do uísque ou água de coco.

Um país que já teve roqueiros como Renato Russo e Raul Seixas, Cazuza e Lobão, hoje tem que aguentar esse bando de cantores enrustidos como Fresno, Hori, Strike, Cine, Restart, NX Zero e CPM 22. Os caras cantam chorando, o instrumental é um hardcore sem a mínima pegada e a postura é muito mauricinho querendo ser proletariado. Isso quando eles não inventam fazer balada, pois daí você não sabe se está ouvindo a uma dessas bandas citadas ou a uma das duplas sertanejas universitárias que andam empesteando o ambiente.

É tudo a mesma porcaria! Não importa a música, e sim se os caras são bonitinhos, se tem o cabelinho assim, se usam as roupinhas assado, e por aí vai. É aquele tipo de rebeldia frágil para os adolescentes – época em que ficamos idiotas, espinhudos, feios e nos apaixonamos pelo primeiro poste da esquina. Deveriam mudar logo o rótulo desse tipo de rock para Bunda Mole Music.

Outros dois que entram na onda do pop/ rock são o Jota Quest e o Charlie Brown Jr. Os dois tem respeito, acumulam sucesso e bla bla bla, mas são o mais puro lixo do pop brasileiro. Eu não entendo uma palavra que o Chorão canta e acho a postura de sou fodão, sou perigoso a coisa mais estúpida do mundo. Ao menos o tal chorão se foi! Já os caras do Jota Quest são capazes de vender até a mãe para alcançarem o sucesso. Seu repertório é cheio de canções manipuladoras, altamente descartáveis e fritinhas para o sucesso. Não há sinceridade em nada!

Ao assistir o clipe da caipirinha do Piaíu chamada Stefhany, no YouTube, eu tive a plena certeza de morar em um país atrasado. Como uma música tão ruim pode fazer sucesso? Mas ela é só a ponta do iceberg: o forró é um pé no saco e ainda temos Banda Calypso e Calcinha Preta para aturar. Em 2009 o Melhor Prêmio da Música Brasileira foi entregue ao Calcinha Preta: música chata, reta, idiota. Só fez sucesso por causa da novela “Caminho das Índias”, senão ninguém – mas ninguém mesmo – teria prestado atenção. Porém o sertanejo é um gênero que definitivamente não me faz mal. Eu até acho bastante divertido aquelas músicas ao estilo de cerveja e cornice. É milhões de vezes melhor do que o pagode, o forró sem sal (não aquele que conheci em João Pessoa ou os tradicionais feito por Luiz Gonzaga, Fagner ou Dominguinhos), a axé e principalmente o funk carioca. Mesmo assim, não entra na minha cabeça tanta babação de ovo em cima do pirralho Luan Santana. Eu havia dado 1 ano para que ele sumisse do mapa. Ainda não aconteceu, mas sua música está desaparecendo aos poucos. As adolescentes que hoje choram por ele amanhã estarão sofrendo de amor por outro galãzinho qualquer.

O samba de raiz é o que há de melhor na MPB, mas o pagode chegou para estragar tudo. Mesmo longe dos áureos tempos (diga-se segunda metade dos anos 90), a ruindade do pagode ainda existe. Netinho de Paula, Exaltasamba, Sorriso Maroto, Belo, Pixote, Alexandre Pires e Samprazer são insuportáveis. Não estou nem aí se eles são famosos, ganharam prêmios, lotam estádios e o caramba a quatro. Todo mundo toca mal, canta mal e compõe pior ainda, com aquelas letrinhas chulé de rimas infantis e romantismo de duplo sentido. Não entendo por quê pagam tão alto para ver Alexandre Pires. Ele é menos que nada. O Netinho de Paula pode se gabar por ter a voz mais chata do universo; seus chorinhos me dão enxaqueca. O Belo não tem o menor talento pra nada, e os outros três aí – os grupos Pixote, Sorriso Maroto, Exaltasamba e Samprazer – são mais insignificantes do que bactérias.

 

Naldo, Anitta e os piores da músical atual

Marcelo Teixeira

segunda-feira, 1 de julho de 2013

O vexame do Som Brasil Bossa Nova



Os especiais de 1980 eram melhores
O que era bom acabou mudando de estilo. O Som Brasil apresentado nos anos 1980 pelo competente Rolando Boldrin troucou de formato, trocou de apresentadores – saí o homem, entra a mulher – trocou de horário, dia e não tem um mês específico para ir ao ar. Indo às madrugadas de uma sexta feira por mês (quando consegue entrar na grade), o Som Brasil resolveu inovar e dessa inovação houve um grande embaraço musical, convidados nem sempre alinhados ao estilo e muitas vezes incompetentes. O público de hoje, com as novas tendências musicais, acabam não reconhecendo as canções ali apresentadas por novas caras e novas vozes e o programa passa desapercebido. Já para os que gostam do programa e das músicas ali cantadas, acabam se irritando com as mudanças de harmonias e o que era para ser inovação, acaba sendo uma irritação profunda e nostálgica. O Som Brasil mudou de cara e de comportamento, mas não exprime qualidade nem sofisticação alinhada aos novos tempos. A apresentação musical ficou careta e estranha e o que mais irrita na atração são cantores e cantoras inexperientes que dublam as músicas sem o minímo cuidado de tropeçar e com músicos que tocam seus instrumentos ao vento, sem tocá-los.

O Som Brasil apresentado recentemente pela Rede Globo de Televisão dedicou a recordar as melhores canções da bossa nova. Sai Rolando Boldrin, entra Patrícia Pillar que recebeu um dos anfitriões ainda na ativa, Roberto Menescal, um dos precursores do gênero que inovou ao misturar influências do jazz à cultura nacional. Canções que viraram referências da música brasileira – como Garota de Ipanema, O Barquinho e Ela É Carioca – compõem o repertório do programa em homenagem ao estilo. Menescal dividiu o palco com Andrea Amorim, Daíra Saboia, BeBossa e Cris Delanno.

Tom Jobim, Vinicius de Moraes, Jhonny Alf e Baden Powell se foram, mas ainda permanecem na ativa três grandes monstros sagrados da Bossa Nova: João Gilberto, Carlos Lyra e Roberto Menescal. João Gilberto se isolou nos Estados Unidos e não há santo cristo que o faça dar uma entrevista ou uma aparição pública qualquer.  Carlos Lyra mal compõe músicas hoje em e dia e seu último lançado no ano passado, intitulado Só Danço Samba (Ao Vivo), mas também virou um adepto do esconderijo, pois quase não é possível ver Carlos Lyra.

Roberto Menescal é o contrário de tudo isso e de todos. Ainda na ativa e morando em Brasília, o cantor, compositor, violonista e artista completo lança a cada ano ótimos discos lapidando as melhores vozes femininas de todos os tempos. Seu disco de maior destaque é o Elas Cantam Menescal, lançado no ano passado ao lado de belas vozes, como Márcia Tauil, Sandra Duailibe, Cely Curado e Nathália Lima. Recentemente, Menescal está em companhia da cantora mediana Adriana Amorim – que não é nem maravilhosa, nem boa, nem nada. Apenas fraca cantora.

Há mais de uma década na estrada, Andrea se divide entre a paixão pelo rock e pela bossa nova desde que gravou um CD com Menescal. O compositor também foi fundamental na carreira de Daíra, que começou a trabalhar nos palcos de espetáculos musicais ainda criança e está produzindo seu primeiro disco com o ídolo. O sexteto BeBossa, cujos arranjos são predominantemente vocais, lança um álbum com regravações das letras de Menescal. O cantor protagoniza ainda mais um dueto ao lado de Cris Delanno, que traz experiência como solista em corais. Também são convidados Celso Fonseca, cantor e produtor que participou de diversos festivais internacionais; Alaíde Costa, vocalista que começou em programas de calouro de rádios e hoje tem mais de 50 anos de estrada; Georgeana Bonow, compositora e professora infantil de iniciação musical; e Tibless, representante da afrobeat.

Exceto um dos pais da bossa nova, Roberto Menescal e de Celso Fonseca, Cris Delanno e da excelente Alaíde Costa (que fora aplaudidíssima), os outros músicos não representaram nada ao estilo bossa nova. Às vezes encontramos um Roberto Menescal perdido nas próprias melodias ou perdido de frente das câmeras, mas mesmo assim, o músico se saiu muito bem, pois representou ali como sendo o representante do movimento e criador de várias músicas cantadas.

Adriana Amorim decepcionou! Fanha, a cantora tentou ser maior que tudo ali: maior que o programa, maior que Menescal, maior que as outras cantoras. Abrindo o programa, Adriana sambou mais que cantou e isso prejudicou sua participação. Mesmo sendo um playback, a cantora se esforçou demais para cantar, estorvando seu show e caindo na caretice de ser apenas mais uma entre tantas. Aquele beijinho no Menescal (forçado demais) ao final da música foi o erro fatal e cheio de piegas.

Daíra Sabóia tentou ser uma nova Elis: dançou, requebrou, sorriu, ergueu os braços igual uma Elis Regina. Sua voz até que é agradável, mas de olhos fechados. Péssima escolha do programa em tê-la ali cantando  O Pato, com aquela voizinha irritante por vezes e macia por poucos minutos.  Mesmo com um suingue descontraído, Georgeanna Bonow não convenceu. Sua maquiagem estava muito carregada e sua vestimenta não correspondia ao estilo mais intelectual do movimento. Mais parecia uma cantora de rock punk do que propriamente de bossa!

Decepção geral foi o grupo mineiro Tibless, representante do afrobeat. O cantor até tem uma voz suave, macia, mas ele estava visivelmente fora do tom bossa novista e não convenceu em nada, mesmo sendo um grupo realmente bem afinado. E por falar em afinação, foi a partir da apresentação deste grupo que percebi que tudo ali era cantado em playbak e isso, definitivamente, acabou de enterrar o programa Som Brasil.

Lamentável!

O vexame do Som Brasil Bossa Nova

Marcelo Teixeira